Crowdfunding
Financiamento colectivo é uma alternativa eficaz na realização de projectos
Crowdfunding
(investimento colectivo) é, em tempos de crise, uma alternativa de
financiamento de novas ideias e empresas. Esta inovadora forma de
concretizar e custear projectos de negócios e artísticos tem cada vez
mais adeptos em Portugal. Os casos de sucesso surgem onde menos se
espera.
Em
tempos de crise, quem não caça com cão, caça com gato. O mesmo será
dizer que à arte juntam-se novas formas de engenho, nomeadamente no que
às formas de financiamento diz respeito. Os pés-de-meia no banco já mal
resistem, os subsídios estatais ou privados já eram.
Agora o que está a dar é o crowdfunding – ou financiamento colectivo – uma forma simples e recente de angariação de fundos, não importa o teor do projecto – cultural, social, desportivo, empresarial – através da participação de uma comunidade que partilha os mesmos interesses.
A Internet, seja em redes sociais como o Facebook e o Twitter, ou em portais temáticos, alberga esta inesgotável comunidade virtual, em que uns emprestam o cérebro e os outros abrem os bolsos. Quer lançar um trabalho discográfico? Organizar um concerto? Publicar um livro? Participar numa prova desportiva no estrangeiro? Ou construir um parque de merendas no seu bairro? O crowdfunding internacional pode ser a solução para levar a bom porto o seu sonho.
Do outro lado há sempre alguém disposto a apoiar projectos em que acredita e que de outra forma dificilmente se realizariam. No final estes mecenas poderão ainda ter a alegria de ver o seu nome estampado na lista de agradecimentos (em caso de um livro ou disco). A recompensa varia consoante o escalão de financiamento.
Para os velhos dos Restelo este tipo de empreendedorismo só tem um defeito: o risco de sermos “roubados” intelectualmente ao divulgarmos as nossas ideias antes de as executarmos.
Ajuda à portuguesa
«O nosso objectivo é permitir que o imenso potencial de ideias que fervilham na nossa comunidade possa tornar-se realidade, através da ajuda na angariação de fundos. Queremos promover os projectos de pessoas com talento e motivação em áreas tão distintas como eventos sociais, artísticos, culturais ou desportivos», explicam os mentores da plataforma PPL – a premissa de people/pessoas com Portugal derivou na designação ppl.com.pt – uma iniciativa da empresa Orange Bird, «cujo objectivo é promover o conceito de crowdfunding em Portugal e, consequentemente, dinamizar o empreendedorismo e o desenvolvimento social.
Para os interessados em ali promover os seus objectivos, avisamos que o registo é gratuito e sem custos mensais, a plataforma é financiada através de uma comissão de 5% nos projectos que se financiem, se atingir a meta proposta para financiamento dentro do prazo estabelecido, recebe o apoio, caso contrário os apoiantes receberão o dinheiro de volta.
Fundada há precisamente um ano, a plataforma conta já com vários casos de sucesso. A começar pelo livro Formiga JUJU na Cidade das Papaias, um projecto de Cristiana Pereira, ex-jornalista do Destak, inserido num projecto mais amplo de promoção da leitura entre crianças de bairros da periferia de Maputo (Moçambique). Em Outubro, este foi o primeiro projecto, na ordem dos 3500 euros, a ser totalmente financiado. Partilhando metodologias e lemas com a PPL, também as plataformas Massivemov e Redebiz divulgam as potencialidades do crowdfunding.
Pioneiros fazem história
Em 1997, os fãs dos Marillion financiaram a digressão norte-americana deste grupo rock britânico, tendo angariado 60 mil dólares na sequência de uma campanha na Internet. A ideia foi concebida e executada pelos fãs sem qualquer envolvimento da banda mas, confrontada com o sucesso da campanha, esta acabaria por explorar tal método como forma de financiamento da gravação e promoção dos vários álbuns que o futuro lhes reservaria. Anoraknophobia, Marbles e Happiness Is the Road são os trabalhos discográficos resultantes de crowdfunding.
Nos EUA, o site ArtistShare, fundado em 2000, é considerado pioneiro no crowdfunding de projectos musicais. No cinema britânico, Franny Armstrong foi pioneira, graças ao filme The Age of Stupid (2009), com o falecido Pete Postlethwaite. As 450 mil libras do orçamento foram financiadas por 223 pessoas com donativos entre os 500 e os 35 mil libras.
«Uma questão de fé» dos fãs na sua estética
Em 2010, o britânico Lloyd Cole recorreu aos fãs para gravar o álbum Broken Record. A opção tinha que ser essa, senão, «como dizia Darwin, é a extinção», afirmou então. Cole pediu a mil fãs para doarem 35 euros. Em troca recebiam uma edição especial do álbum. «O que aconteceu foi uma questão de fé para que o meu álbum não fosse uma coisa terrível. Não sinto que eles [os fãs] tivessem dado alguma coisa, mas sim confiaram em mim e fico muito reconhecido por isso», afirmou Lloyd.
Por cá, também os You You Can’t Win Charlie Brown, que editaram o álbum de estreia pela independente Pataca Discos, pediram ajuda aos fãs, em troca de um EP gratuito, e deram um concerto em Lisboa para angariar verbas para uma deslocação ao festival South by Southwest, nos EUA. Em Março, a cantora Sofia Sibeiro apresentou em 1ª mão no Auditório de Espinho, o álbum Ar, fruto de crowdfunding.
Após a edição de Song of the New Heart, o seu primeiro disco, e Song of Distance, o singer-songwriter Mazgani está a preparar o seu 3º disco, que será editado de forma totalmente independente no final de Setembro/início de Outubro. Daqui até lá, vai partilhar com os seus fãs artigos exclusivos, letras, músicas, bem como efectuar pré-vendas dos vários formatos do novo disco. Os fundos obtidos através de crowdfunding, na ordem dos 5 mil euros, ajudarão a suportar os custos de produção.
Casos de sucesso
Daniel Pereira almejava adquirir uma ortótese dinâmica (prótese ortopédica em carbono) de modo a poder voltar a correr e praticar outros tipos de desporto que impliquem o movimento ou estabilidade do pé. Participar numa meia-maratona na marginal do Rio Douro era a promessa caso o seu projecto fosse financiado. Precisava de 650 euros. Através da plataforma Massivemov, apresentou a sua candidatura ao mundo e o seu sonho foi financiado a 108%, por 46 participantes, cujos nomes Daniel levou estampados na camisola.
O que começou como «uma brincadeira de Carnaval», acabou por ser um projecto financiado em 131% nos 1100 euros necessários à sua execução. Um arquitecto na casa dos 30 anos e uma técnica de Turismo inventaram o Mo.Ca, um conceito de peças de mobiliário em cartão. «Modulares, dinâmicos, transportáveis, versáteis, originais, leves, coloridos e lúdicos» assim são os produtos. O apoio serviu à aquisição de equipamento para pintura e para pagar o aluguer do espaço de trabalho durante 6 meses.
Os números não são redondos, mas são certeiros: bastavam 1560 euros para que João Pedro Correia pudesse investir num documentário sobre as Aldeias de Xisto em Portugal, fruto da investigação para a sua tese do Mestrado em Comunicação Multimédia na Universidade de Aveiro. Apresentado ao pormenor o plano orçamental, 38 investidores ficaram convencidos da viabilidade deste documentário. Em última instância a ideia seria apresentá-lo em festivais e lançá-lo online.
A Saquetas de Rua – uma associação sem fins lucrativos que alberga , trata e alimenta gatos de rua, com experiência na recuperação de gatos e no reencaminhamento para adopção responsável – solicitou online os 1250 euros necessários (500 euros para a vedação e cobertura e 125 euros para as casotas) à construção de um novo abrigo para estes animais felpudos. O orçamento angariado excedeu as expectativas, pois 42 pessoas não resistiram à ideia de construir um novo gatil, em Grijó, em Vila Nova de Gaia.
«Gostaria muito de realizar um trabalho de voluntariado em Madagáscar com uma equipa de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC)! Todos nós podemos contribuir para a Conservação do nosso planeta e da sua biodiversidade! Eu, como bióloga, tenho a possibilidade de acompanhar a equipa de Genética de Populações e da Conservação (PCG) do IGC que desenvolve um projecto em Madagáscar.» A jovem Marion Carreira, de Mafra, pediu 2 mil euros e 49 investidores fizeram-lhe a vontade.
Agora o que está a dar é o crowdfunding – ou financiamento colectivo – uma forma simples e recente de angariação de fundos, não importa o teor do projecto – cultural, social, desportivo, empresarial – através da participação de uma comunidade que partilha os mesmos interesses.
A Internet, seja em redes sociais como o Facebook e o Twitter, ou em portais temáticos, alberga esta inesgotável comunidade virtual, em que uns emprestam o cérebro e os outros abrem os bolsos. Quer lançar um trabalho discográfico? Organizar um concerto? Publicar um livro? Participar numa prova desportiva no estrangeiro? Ou construir um parque de merendas no seu bairro? O crowdfunding internacional pode ser a solução para levar a bom porto o seu sonho.
Do outro lado há sempre alguém disposto a apoiar projectos em que acredita e que de outra forma dificilmente se realizariam. No final estes mecenas poderão ainda ter a alegria de ver o seu nome estampado na lista de agradecimentos (em caso de um livro ou disco). A recompensa varia consoante o escalão de financiamento.
Para os velhos dos Restelo este tipo de empreendedorismo só tem um defeito: o risco de sermos “roubados” intelectualmente ao divulgarmos as nossas ideias antes de as executarmos.
Ajuda à portuguesa
«O nosso objectivo é permitir que o imenso potencial de ideias que fervilham na nossa comunidade possa tornar-se realidade, através da ajuda na angariação de fundos. Queremos promover os projectos de pessoas com talento e motivação em áreas tão distintas como eventos sociais, artísticos, culturais ou desportivos», explicam os mentores da plataforma PPL – a premissa de people/pessoas com Portugal derivou na designação ppl.com.pt – uma iniciativa da empresa Orange Bird, «cujo objectivo é promover o conceito de crowdfunding em Portugal e, consequentemente, dinamizar o empreendedorismo e o desenvolvimento social.
Para os interessados em ali promover os seus objectivos, avisamos que o registo é gratuito e sem custos mensais, a plataforma é financiada através de uma comissão de 5% nos projectos que se financiem, se atingir a meta proposta para financiamento dentro do prazo estabelecido, recebe o apoio, caso contrário os apoiantes receberão o dinheiro de volta.
Fundada há precisamente um ano, a plataforma conta já com vários casos de sucesso. A começar pelo livro Formiga JUJU na Cidade das Papaias, um projecto de Cristiana Pereira, ex-jornalista do Destak, inserido num projecto mais amplo de promoção da leitura entre crianças de bairros da periferia de Maputo (Moçambique). Em Outubro, este foi o primeiro projecto, na ordem dos 3500 euros, a ser totalmente financiado. Partilhando metodologias e lemas com a PPL, também as plataformas Massivemov e Redebiz divulgam as potencialidades do crowdfunding.
Pioneiros fazem história
Em 1997, os fãs dos Marillion financiaram a digressão norte-americana deste grupo rock britânico, tendo angariado 60 mil dólares na sequência de uma campanha na Internet. A ideia foi concebida e executada pelos fãs sem qualquer envolvimento da banda mas, confrontada com o sucesso da campanha, esta acabaria por explorar tal método como forma de financiamento da gravação e promoção dos vários álbuns que o futuro lhes reservaria. Anoraknophobia, Marbles e Happiness Is the Road são os trabalhos discográficos resultantes de crowdfunding.
Nos EUA, o site ArtistShare, fundado em 2000, é considerado pioneiro no crowdfunding de projectos musicais. No cinema britânico, Franny Armstrong foi pioneira, graças ao filme The Age of Stupid (2009), com o falecido Pete Postlethwaite. As 450 mil libras do orçamento foram financiadas por 223 pessoas com donativos entre os 500 e os 35 mil libras.
«Uma questão de fé» dos fãs na sua estética
Em 2010, o britânico Lloyd Cole recorreu aos fãs para gravar o álbum Broken Record. A opção tinha que ser essa, senão, «como dizia Darwin, é a extinção», afirmou então. Cole pediu a mil fãs para doarem 35 euros. Em troca recebiam uma edição especial do álbum. «O que aconteceu foi uma questão de fé para que o meu álbum não fosse uma coisa terrível. Não sinto que eles [os fãs] tivessem dado alguma coisa, mas sim confiaram em mim e fico muito reconhecido por isso», afirmou Lloyd.
Por cá, também os You You Can’t Win Charlie Brown, que editaram o álbum de estreia pela independente Pataca Discos, pediram ajuda aos fãs, em troca de um EP gratuito, e deram um concerto em Lisboa para angariar verbas para uma deslocação ao festival South by Southwest, nos EUA. Em Março, a cantora Sofia Sibeiro apresentou em 1ª mão no Auditório de Espinho, o álbum Ar, fruto de crowdfunding.
Após a edição de Song of the New Heart, o seu primeiro disco, e Song of Distance, o singer-songwriter Mazgani está a preparar o seu 3º disco, que será editado de forma totalmente independente no final de Setembro/início de Outubro. Daqui até lá, vai partilhar com os seus fãs artigos exclusivos, letras, músicas, bem como efectuar pré-vendas dos vários formatos do novo disco. Os fundos obtidos através de crowdfunding, na ordem dos 5 mil euros, ajudarão a suportar os custos de produção.
Casos de sucesso
Daniel Pereira almejava adquirir uma ortótese dinâmica (prótese ortopédica em carbono) de modo a poder voltar a correr e praticar outros tipos de desporto que impliquem o movimento ou estabilidade do pé. Participar numa meia-maratona na marginal do Rio Douro era a promessa caso o seu projecto fosse financiado. Precisava de 650 euros. Através da plataforma Massivemov, apresentou a sua candidatura ao mundo e o seu sonho foi financiado a 108%, por 46 participantes, cujos nomes Daniel levou estampados na camisola.
O que começou como «uma brincadeira de Carnaval», acabou por ser um projecto financiado em 131% nos 1100 euros necessários à sua execução. Um arquitecto na casa dos 30 anos e uma técnica de Turismo inventaram o Mo.Ca, um conceito de peças de mobiliário em cartão. «Modulares, dinâmicos, transportáveis, versáteis, originais, leves, coloridos e lúdicos» assim são os produtos. O apoio serviu à aquisição de equipamento para pintura e para pagar o aluguer do espaço de trabalho durante 6 meses.
Os números não são redondos, mas são certeiros: bastavam 1560 euros para que João Pedro Correia pudesse investir num documentário sobre as Aldeias de Xisto em Portugal, fruto da investigação para a sua tese do Mestrado em Comunicação Multimédia na Universidade de Aveiro. Apresentado ao pormenor o plano orçamental, 38 investidores ficaram convencidos da viabilidade deste documentário. Em última instância a ideia seria apresentá-lo em festivais e lançá-lo online.
A Saquetas de Rua – uma associação sem fins lucrativos que alberga , trata e alimenta gatos de rua, com experiência na recuperação de gatos e no reencaminhamento para adopção responsável – solicitou online os 1250 euros necessários (500 euros para a vedação e cobertura e 125 euros para as casotas) à construção de um novo abrigo para estes animais felpudos. O orçamento angariado excedeu as expectativas, pois 42 pessoas não resistiram à ideia de construir um novo gatil, em Grijó, em Vila Nova de Gaia.
«Gostaria muito de realizar um trabalho de voluntariado em Madagáscar com uma equipa de cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC)! Todos nós podemos contribuir para a Conservação do nosso planeta e da sua biodiversidade! Eu, como bióloga, tenho a possibilidade de acompanhar a equipa de Genética de Populações e da Conservação (PCG) do IGC que desenvolve um projecto em Madagáscar.» A jovem Marion Carreira, de Mafra, pediu 2 mil euros e 49 investidores fizeram-lhe a vontade.
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