Seedrs expande para os EUA à procura de investidores interessados na Europa
Plataforma de financiamento para startups, que tem boa parte da equipa em Lisboa, permitiu que empresas angariassem 85 milhões de euros em 2015.
A Seedrs, uma plataforma online que permite a qualquer
pessoa investir numa empresa, prepara-se para expandir as operações para
os EUA, com o objectivo inicial de atrair investidores americanos para startups europeias.
A empresa britânica – que foi criada por um americano e um português e tem boa parte da equipa em Lisboa
– pretende chegar aos investidores fora do circuito de Silicon Valley, a
meca mundial do empreendedorismo tecnológico. “Nos EUA não faltam boas startups,
mas estão concentradas no Valley. É um ecossistema fechado”, argumenta o
co-fundador Carlos Silva. “Existem investidores espalhados pelos EUA
que acabam por investir na terceira divisão, nem sequer estão na
segunda”.
A Seedrs está agora no processo de contratar
pessoas para trabalharem em Nova Iorque, depois de em 2014 ter comprado a
americana Junction, que funcionava num modelo semelhante, mas focado no
investimento em filmes de Hollywood. A aquisição deu à Seedrs acesso às
autorizações regulatórias necessárias para ter um negócio de
investimento colaborativo naquele país. O objectivo é agora fazer o
arranque – que chegou a estar previsto para o final do ano passado –
ainda durante estre trimestre.
Nos EUA, só no final do
ano passado foram aprovadas as regras que irão permitir à Seedrs
funcionar no mercado americano da mesma forma que na Europa, onde a
plataforma está aberta a qualquer pessoa que queira investir (as
empresas, porém, têm de estar registadas no Reino Unido, mesmo que
funcionem de facto noutro país). Nos EUA, só pessoas com um determinado
nível de rendimento ou património eram consideradas qualificadas para
investir. As novas regras, que entrarão em vigor dentro de meses, abrem o
acesso a estas plataformas a qualquer pessoa.
Também em Portugal, os modelos de financiamento colaborativo foram regulados recentemente. O regime jurídico entrou em vigor em Outubro e trouxe regras para plataformas como a Seedrs, bem como como para as de crowdfunding (em
que o apoio a um projecto é feito em troca de recompensas não
monetárias) e as de empréstimos colaborativos, às quais algumas empresas
recorrem como uma alternativa à banca.
Plataformas
online como a Seedrs permitem aos utilizadores funcionarem como
investidores de risco: aplicam dinheiro em troca de uma parte do capital
social da empresa. O retorno acontece caso a empresa entre em bolsa,
seja comprada ou venha a dar dividendos - algo que ainda não aconteceu
em nenhuma das mais de 200 que obtiveram financiamento.
Esta é uma situação que Carlos Silva justifica com o período de tempo necessário para que qualquer investimento numa startup
dê retorno: os investimentos são frequentemente feitos em fases
iniciais dos projectos, o que significa que é preciso esperar alguns
anos para ver eventuais frutos. E a Seedrs está no mercado há menos de
quatro anos. O co-fundador diz-se optimista: “Se olharmos para as
empresas financiadas como um portefólio [de investimento], há sinais
muito positivos”.
Nos EUA, não faltará concorrência à Seedrs. O sector que tipicamente é designado pela expressão inglesa fintech
(a aplicação de novas abordagens à prestação de todo o tipo de serviços
financeiros) é uma área que tem suscitado a atenção de empreendedores e
investidores, levando ao aparecimento de muitas novas empresas. A
nova-iorquina Seedinvest, por exemplo, funciona essencialmente nos
mesmos moldes, está no activo desde 2011 e permitiu o financiamento “a
mais de 50 projectos”, segundo a informação da empresa. Alguns
conseguiram valores em torno dos três milhões de dólares. Já a Onevest
permite a startups procurarem capital, mas a plataforma é
restrita: só acedem investidores que sejam aprovados e têm de pagar uma
anualidade de alguns milhares de dólares. A funcionar a partir do Reino
Unido, a CrowdCube tornou-se, depois da Seedrs, a segunda empresa
naquele pais autorizada a fazer este tipo de operações, tendo angariado
174 milhões de euros para 350 projectos.
Para a Seedrs,
que cobra uma comissão por cada financiamento e que ainda não é
rentável, o negócio tem estado a crescer. Em 2015, foram investidos
cerca 85 milhões de euros, o que é um aumento em torno dos 200%. Quase
dois terços dos investidores não eram profissionais. Entre as empresas
que obtiveram capital recentemente, estão um site que pretende ser um
Airbnb para espaços de trabalho, uma aplicação de compras online e um
software de contabilidade. Mas em só startups tecnológicas
procuraram a plataforma: uma marca de gelados, por exemplo, angariou 390
mil euros em dois dias. “Há negócios que não são a típica startup, mas que são muito interessantes”, observa Carlos Silva. “E não são negócios para irem pedir dinheiro a um banco”.
source: publico.pt
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